INTRODUÇÃO
Por ser a letra A, a primeira letra do Alfabeto, nos soa estranho
escrever um texto sem utilizá-la.
Em 1912, o Professor, Advogado e Jornalista João Baptista Figueiredo,
natural de Jundiaí – SP nos presenteou com este texto.
É interessante notar que por ter em seu nome a letra A,
ele assinou J. B. Figueiredo.
REFLEXÕES
Ventos impetuosos, furibundos e medonhos se erguem correndo
por entre os bosques sombrios, de quem o frescor é intérmino
sofrer de desilusões e de dores.
No mundo, percorremos os ínvios desvios dum soturno recesso
de sofrimentos dolorosos, onde podemos fruir os últimos e
efêmeros risos dum viver feliz.
Tudo é mentiroso e nos incute no espírito os doces momentos de
nossos folguedos juvenis, correndo céleres pelos íngremes
declives dos montes verde-negros do viver, onde perdemos
os melhores momentos de nossos idílios em flor.
Por isso, hoje soluço e choro, vendo o mundo imerso num
legítimo sorvedouro de vícios e corrupções.
O homem submerge-se em folguedos, num ignoto perverter
de gozos, oferecendo o mundo o triste epílogo dum viver
impudico, sem um feito sequer que lhe perpetue o nome.
Mulheres num sonho correm, indo ferir o seu pudor vendendo-o
nos lúbricos leitos dos pervertidos.
Pobres inconscientes, seguem os ínvios e floridos rumos dos
gozos, indo de chofre romper os pórticos trívios do Desprezo,
do Opróbrio e do Infortúnio.
Desprezo, de todos que querem o mundo perfeito, sem decepções,
sem o triste construir de templos viciosos, por tributos mesquinhos.
Opróbrio, que como um deus voluptuoso deve romper o véu que
cobre todos os vícios, dormindo em leitos de flores.
Infortúnio, indo morrer nos leitos desprezíveis dos pedrouços dos
becos imundos e fétidos, por entre o murmúrio forte dos ventos
que se erguem nos desvios do viver sem pudor e improfícuo.
Porém, é tempo. Deixemos os perigosos gozos do mundo, volvendo
um brilho dos olhos escurecidos e vendo o futuro, que como um
espectro medonho nos infunde terror.
Os tempos idos, velêmo-los com o toldo do esquecimento;
o presente, cerquêmo-lo com o viver melhor se queremos ter
um viver promissor, despido de perigosos vícios, que devem
do homem reviver um monstro desprezível e odioso.
J. B. Figueiredo
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