Suave veneno
Bette Vittorino
Quando a sombra da noite espalha
seus braços pela imensidão,
ressuscita em mim todos os medos e anseios.
Fico com o olhar perdido num mundo
existente apenas dentro do meu ser.
No quarto, meu único refúgio,
sinto-me como uma leoa enjaulada.
Acuada em meu espaço menor,
lograda pelos mais tenebrosos pensamentos,
mal percebo a quilometragem
registrada no assoalho por passos
imprecisos.
A decoração está desgastada,
paredes pálidas, tantas vezes ignoradas,
pelo meu olhar cansado e cego
ao colorido ao seu redor.
Assim, despercebida, sigo pela vida,
deixando que os seus rastros apaguem o
brilho,
o vigor, outrora presente em mim.
Permitindo que destrua o amor que,
embora doentio,
destila e absorve em tragos, como se fosse,
um suave veneno...
18/10/04
Juiz de Fora - MG
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