Sempre uma esperança
 

Marilena Basso



Olho para o céu azul,
Procuro pelas nuvens,
Hoje, brancas, como algodão.
As lágrimas começam a escorrer
Lavando a poeira do rosto e da alma.
A brisa começa a dançar na tentativa
De secar essa água salgada
Que brota do fundo do meu ser.
A esperança tão acalentada,
De ver nuvens carregadas,
De ouvir o pipocar de um trovão,
Um relâmpago riscando o céu
Iluminando o meu rincão,
Não morreu, vive ainda,
Seus últimos suspiros.
Oh! Meu Deus, que sofrimento,
Adentrar ao meu pobre lar,
Não ter comida suficiente
Para colocar sobre a mesa
E fartar aos que quero bem.
Mas, não quero receber
Uma porção quinzenal ou mensal:
Quero apenas e tão-somente
Ferramentas para trabalhar.
Sementes para plantar.
E a abençoada chuva para
Garantir uma boa colheita.
Sou pobre, não vagabundo,
Pois, quando na terra estou a lidar,
Sinto o suor pelo rosto escorrer
Com gotas chegando à boca,
Novamente sentindo seu gosto salgado,
Um prazer imenso invade a
Minh'alma ansiosa e aflita.
Meu Deus! Tenha piedade!
Já que dos homens não posso esperar,
Só você, em sua onipotência,
Poderá me mandar a água preciosa,
A qual fará com que eu,
Após um dia cansativo,
Regresse ao meu lar,
Transponha o umbral,
Alimente minha família,
Podendo, assim, me deitar tranqüilo,
Com a consciência de que fiz
O que de mim era esperado
E, finalmente então, dormir o sono dos justos.


 

Taquaritinga
25/03/04