Bele
chamá Terê
Oi, minha belê!
Beleza chamada Terê:
Terê que deu forma à beleza,
Beleza símbolo de Tereza...
Complicado é separar terê de beleza!
Pois, com seu sorriso lindo e branco,
Encantava a todos à sua volta.
Foi o seu sorriso, minha Terê,
que deu início à nossa amizade,
naquele dia longínquo,
no pátio de uma escola,
onde eu chorava de medo
de enfrentar o desconhecido.
Vejo você se aproximando,
entre as névoas do meu pranto,
ouço sua voz, carinhosamente, me
dizendo:
Vem, vem comigo, vou te ajudar,
aqui é muito gostoso ficar,
você vai aprender a ler e escrever,
e uma amiga vai ganhar!
Relutante soltei minha mão da de meu
pai,
e me agarrei à sua mão, segurando-a
como uma tábua de salvação.
Nesse momento, nascia a nossa
cumplicidade,
a nossa união, o nosso amor mútuo,
que todos tentavam entender,
e nunca fizemos questão de explicar,
apenas vivíamos a nossa cumplicidade:
uma amizade de verdade que foi
evoluindo,
acompanhando nossas fases de
crescimento de pessoas normais.
Curtimos a juventude juntas,
Passeios, cinemas e estudos,
Pois, apesar de estar na minha frente,
cada qual era a primeira em sua
classe.
Em quantas oportunidades me espelhei
em você
para poder agir, pois era ponderada,
calma,
e eu, a do pavio curto...
Ah!, minha belê!
Lembra do livro da gaivota?
Pois é, nós o lemos três vezes,
para aprender a "ser perfeita"...
E acho que conseguimos na vida adulta,
muito mais você, pois se destacou em
todas
as atividades que exerceu ...
Hoje, rendo minha homenagem à você,
como uma das melhores educadoras,
que teve a sua história passada para a
história da política educacional.
Minha terê, chamada belê,
Conseguimos unir nossas famílias,
Você amou meus filhos como aos seus,
e eu, curti os seus num verdadeiro
patval(?).
Hoje me lembro, carinhosamente,
que eles próprios não entendiam por
que
nossos olhos brilhavam quando nos
olhávamos,
até deixaram de tentar entender,
apenas
participavam e cooperavam para que nos
encontrássemos e matássemos a saudade
que a distância agora vivida
provocava.
No nosso último telefonema, prometi
que iria vê-la, nas férias, com calma,
para poder abraçá-la apertadinho,
para sentir seu cheirinho e desfrutar
seu carinho.
Tudo combinado, minha belê,
mas você furou o trato, minha terê,
a sua primeira e única mancada comigo.
Na noite de domingo, colocou seu traje
de gala,
fez seu penteado, sua maquiagem,
e na "surdina" partiu...
Prá mim sobrou um recado,
se quisesse vê-la pela última vez,
tinha que ser rápido, não havia tempo
a perder.
Não acreditei, não quis acreditar e
pensei:
Esta eu pago pra ver!
Pobre de mim!
Quando chego ao seu lado,
Constato a dura realidade.
Você minha belê, mais linda do que
nunca,
dormindo um sono tranqüilo,
um sorriso desenhado nos lábios,
nada disse para me receber.
Novamente chorei,
Senti as mãos soltas,
A sensação do abandono e o gosto da
derrota.
Sua face beijei,
Senti o frio da morte nos lábios,
Meu coração congelou e eu não gostei.
Segurei sua mãos unidas e ia dizer meu
adeus...
Mas eis que ouço um som diferente,
Vindo do alto em forma de melodia,
Era você me dizendo:
Amiga, adeus não, é apenas um tchau!,
Pois, uma amizade como a nossa não
termina com a morte ...
Estou partindo, mas levo um pouco de
você comigo
E deixo muito de mim com você...
A nossa amizade foi e será sempre
grande,
Estarei do outro lado esperando,
A hora de sua chegada, e lá,
Também quero ouvir você,
desafinadamente, cantar:
Uma belê chamá terê.
"Mas que belê, mas que beleza..."
Marilena
Ferioli Basso
Taquaritinga
17/07/04
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