Liberdade

Marilena Basso

Você chegou,
Com a cara lavada,
Me convidou
Para colocar as cartas na mesa:
Aceitei o desafio,
Pois não fujo da raia,
Mesmo numa situação
De tremendo mal-estar.

Tomou a iniciativa,
Foi logo afirmando
Que queria um tempo:
Desejava sua liberdade
De poder ir e vir,
Não precisar prestar contas
De atos e atitudes,
Ser obrigado a fazer pequenas tarefas
Apenas para me agradar.

A princípio, me senti perdida
Dentro do pequeno espaço
Da gaiola dourada
Em que me mantinha cativa.
Havia me esquecido
Como bater as asas
para alçar vôo individual!
Por ensaios e erros,
Fui tentando alcançar altura,
Uma queda aqui,
Uma batida ali,
Mas finalmente consegui
Cruzar a porta,
Sair, sobrevoando pelo horizonte.

Ah, essa tal liberdade!
Que sensação de alívio senti,
Quando enxerguei o mundo
Com meus próprios olhos,
Descobri que posso ser Alguém,
Sem ser submissa a ninguém!
Voar cada vez mais alto,
Até atingir a perfeição:
Eis agora o meu ideal.

Você está livre!
Eu estou livre!

Eu...
Quero me distanciar,
De sua presença nociva e opressiva,
Curtir minhas potencialidades.
Como um pássaro, gorjear,
Entoando um canto de louvor
Aos dons que recebi do criador.
Quero usar o tempo a você concedido
Para mostrar o bem
Que você possuía e não valorizou.
Esse mesmo tempo, foi a arma traiçoeira
Que o fez me perder,
E, através dele, a distância percorrida
Irá se transformar num caminho sem volta.
Agora, terás todas as horas e os dias
para lamentar essa atitude infantil,
Fruto de uma insegurança
De quem tinha nas mãos
Uma verdadeira relíquia
E não valorizou...

E você?