NO MEIO DO QUARTEIRÃO



Da esquina eu olhava o meio do quarteirão.
Ela estava sempre lá...
disfarçando com seu jeito travesso...
mas sabendo que era ela que eu olhava.



De longe, daquela distância enorme que
separava a esquina do meio do quarteirão...
ela sabia o que eu lhe dizia,
eu sabia o que ela me dizia.



Da esquina eu olhava o meio do quarteirão,
e , no final de tarde do domingo ela saia
toda linda e cheirosa...
sua roupinha de menina,
seu sapatinho de princesa...
era aguardada no coro da igreja...



Da esquina eu olhava o meio do quarteirão
e via ela voltando,
correndo apressada...
dormir cedo...
no dia seguinte, o pão no panosso



Da esquina eu olhava o meio do quarteirão...
e via ela namorando no carro do namorado,
o beijo da despedida...
e o olhar sem jeito
porque eu estava olhando...



Da esquina eu olhava o meio do quarteirão
mas ela não estava lá,
era cada vez mais difícil vê-la...
faculdade...pensão...viagem...
mas eu continuava olhando.



Hoje, quase não fico mais na esquina,
mas quando fico...
olho o meio do quarteirão
e ela não está mais lá...
e não estará...
mas ,continuo olhando o meio do quarteirão.



Da esquina eu olho o meio do quarteirão...
e meus olhos marejam, meu peito aperta,
sinto o seu cheirinho gostoso de menina,
tenho a impressão que sairá daquela casa...
que correrá para a igreja...
que correrá para o 9 de julho...
que correrá para o panosso...
que acenará, com sua mão doce e delicada,
dando o sinal para que eu entre
e volte, no dia seguinte,
a olhar o meio do quarteirão



Paulo Depiro