Velho sótão
Marilena Ferioli
Basso
Em dias de chuva,com ventos uivantes,
Sempre costumo subir ao velho sótão,
Onde fico mais pertinho do céu,
Tentando entender a razão de tanta fúria,
De tantas faíscas saídas
De um firmamento sempre tão azul...
Me sento naquela cadeira,
Bem perto da janela,
Fico com o álbum de fotos nas mãos,
Olhando, mas não enxergando...
Meu pensamento voa longe,
Vai ao encontro da pessoa querida
Que tive e estupidamente perdi.
Só posso classificar de estúpido
O modo como você foi arrebatado,
Rápido, quase que instantaneamente,
Sem deixar sequer um momento
Pra refletir sobre o que acontecia:
Analisar o vácuo que sua ausência traria.
Hoje, penso que, talvez tenha sido
A melhor forma para não enlouquecer,
Para que eu não tivesse tempo de pensar
Que ali, naquele momento, estava partindo
Um pedaço significativo de mim.
Pois, apesar de sermos dois,
Sempre vivemos como se fossemos um.
Meu querido:
Pode ser que o mundo
Não se importou com a sua passagem,
Em sua estadia por aqui.
Você não construiu impérios,
Não acumulou riquezas...
Mas pela sua sagacidade,
Acumulou cultura,
Experiências de vida,
Verdadeira riqueza intelectual que
Soube compartilhar e deixar como herança.
Se a sociedade não o valorizou,
Isso em nada diminuiu o seu valor,
Foi, e serás sempre o meu ídolo:
Nosso mundo particular foi semeado de amor.
Que falta você me faz!
Onde será que você está?
Neste céu turbulento, abalado,
Sofrendo os impactos da chuva?
Ou, será que mais acima,
Numa região de paz e tranqüilidade...
Ah!, sei que você está ai,
Sempre fez por merecer o melhor!
Mas, o vazio aqui é nostálgico,
Tão marcante que chega a doer.
A sua lembrança se faz presente
Em tão pequenos detalhes,
Que, para muitos, passam despercebidos,
Mas eu sei...
Isso importa...
Firmo meus olhos na sua foto,
Vejo seu sorriso,
Seus olhos brilhantes,
Digo "boa tarde!" e você não responde...
A solidão e o silêncio são sufocantes.
Olho na parede:
Pendurado está o seu chapéu,
O mesmo que o acompanhou
Na sua luta pelo sustento da família...
Continuo procurando entre os trastes
Guardados neste sótão, algo mais que
Se identifique com você...
Nada do que vejo,
Tem importância tamanha,
Comparado com os bens morais
Com os quais você me brindou!
Dói recordar de você, meu querido,
Como alguém que já se foi,
Suas lembranças estão gravadas
Dentro do meu coração.
Você é único e insubstituível.
Por isso, deixo a chuva passar,
Espero o tempo correr:
Aguardo chegar a minha vez
Para que possamos conversar,
Pois, não houve tempo de lhe dizer:
-Você continua sendo importante,
Minha admiração não morreu,
Ela nunca foi com você,
Ficou comigo,
Este sentimento puro
Que inunda meu coração.
Ah! como é bom amar você,
Meu doce amigo e querido Pai!
Taquaritinga<
04/07/04
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