O PROFESSOR





O professor é um segundo pai e, não raro, sucede que todo
o trabalho da educação é exclusivamente obra sua.
Há pais que saem de manhã e só voltam à noite,cansados do
trabalho.Por outro lado, muitas mães,devido também às profissões
que exercem e lhes roubam o tempo,não podem cuidar, tanto quanto
desejam do preparo do coração de seus filhos.
Eis aí o professor substituindo esses pais e essas mães, que, por sua
vez, depositam nele o mais sagrado dos penhores-"as suas esperanças,
o seu esteio futuro, o herdeiro das suas virtudes, do seu bom nome e da
sua benção".
Constituindo-se chefe de uma numerosa família , no meio de seus filhos
adotivos, sua missão não se limita, pois a derramar sobre as tenras
inteligências os conhecimentos indispensáveis da vida; ele exerce, a um
tempo, dois nobilíssimos sacerdócios: ensina e educa, isto é forma
espíritos e corações, baseando todo o seu ministério de amor, no
desinteresse, na abnegação, na virtude.
Bem vêdes, então, meus amigos, que o professor representa um grande
benfeitor da humanidade, e tem direito a todas as considerações públicas.
Um dos cidadãos mais notáveis da França, o sr.Thiers, era ministro de
Estado, quando,em 1836 , foi visitar Marselha, sua terra natal, sendo ali
recebido com todas as homenagens a que tinha direito pela sua
ilustração e virtudes cívicas.
No meio daquela multidão que cercava o notável estadista e historiador,
um homem curvado pelos anos e trajado à moda antiga, com ar tímido
e embaraçado, parecia querer aproximar-se de Thiers.Começavam a
zombar do velho, quando ,de repente, o ministro de estado correu para
ele abraçando-o ternamente.
-Ó meu caro sr.Petit!... Que prazer em abraçar-vos!...É verdade que me
reconhecestes?
- Senhor! Excelência!..balbuciou o ancião extremamente comovido.
- Como?...Então é certo que já não lembrais do pequeno Thiers, que
punistes algumas vezes? Pois é assim que deves continuar a tratá-lo.
Em seguida Thiers voltou-se para a multidão surpreendida e disse:
- Eis aqui ,senhores, o meu primeiro mestre, aquele a quem devo uma
grande parte do que sou...
E foi assim, meus amigos, que o notável historiador da Revolução
Francesa deu o mais solene e público testemunho da sua gratidão
ao modesto professor que lhe ensinou a pegar na pena.

Hilário Ribeiro