Professor, diz-me
por quê?
Professor diz-me por que?
Por que roda o meu pião?
Ele não tem roda
e roda, gira, rodopia
e cai morto no chão...
Tenho nove anos, professor
e há tanto mistério à minha roda
que eu queria desvendar
Por que é que o carro é azul?
Por que é que marulha o mar?
Por quê?
Tantos porquês que eu ...
eu queria saber!
E tu que não me queres responder!
Tu falas, falas professor
daquilo que te interessa.
Tu obrigas-me a ouvir
quando eu quero falar,
se eu vou descobrir
faz-me decorar!
É a luta professor
a luta em vez do amor....
mas,
enquanto tua voz zangada ralha
tu sabes, professor,
eu fecho-me por dentro,
faço uma cara resignada
e finjo que não penso em nada,
mas penso...
Penso em como era engraçada
aquela rã
que esta manhã ouvi coaxar...
Que graça que tinha
aquela andorinha
que ontem à tarde vi passar.
E quando tu podei vens definir
o que são conjuntos e preposições,
quando me fazes repetir
que os corações
tem duas aurículas e dois ventrículos
e tantas
tantas mais definições...
Meu coração, o meu coração
Que não sei como é feito
E nem quero saber...
Cresce dentro do peito
A querer saltar pra fora, professor
E ver se tu assim compreenderias
E me farias mais belos os dias!
Cecília Meireles
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